quarta-feira, 13 de maio de 2009

O filme X-Men Origens: Wolverine é uma M...


Um filme para esquecer
Por: Ulisses Mattos

Quem não acompanha histórias em quadrinhos e já viu X-Men Origens: Wolverine pode achar um absurdo que o filme possa ser chamado de uma merda. Digo isso porque assim que terminei de assistir ao longa, em um cinema comum, em vez de uma cabine de Imprensa, vi uma menina discutindo com o amigo sobre o que haviam acabado de ver. O rapaz não parecia muito satisfeito, mas a mocinha dizia “O filme é maravilhoso e leva direitinho para a história do primeiro dos X-Men”. O garoto disse algo que não pude ouvir, pois ele falava num tom mais baixo que a menina entusiasmada, que logo completou em mais um comentário estridente: “Ah! Mas só os fãs acham isso! Só os fãs que não estão gostando!”.

É mais ou menos isso, menina. Muita gente que só conhece os X-Men no cinema vai gostar de mais essa produção, pois há bons efeitos especiais, a atuação convincente de Hugh Jackman e, claro, mais cenas de Wolverine botando para quebrar. Mas dois grandes grupos de espectadores vão achar o filme uma merda. Um deles nem precisa ser fã do Wolverine dos quadrinhos. Basta já ter visto uma penca de filmes e perceber que não há nada mais manjado do que a trama que jogaram para embrulhar a origem do herói. Não é questão nem de reclamar coisa do tipo “ah, mas nos quadrinhos não foi assim que aconteceu!”. O problema maior é que a historinha que criaram é repleta de reviravoltas artificiais, desgastadas, já vistas em outros filmes à exaustão. Essa coisa de mostrar o personagem sofrendo cada vez que descobre ter sido enganado pelas pessoas em quem confia é digno de novela mexicana. É um roteiro fraco, seja para o Wolverine dos quadrinhos ou do cinema.

Além disso, a história também é meio incoerente. Um dos inimigos de Wolverine, a certa altura, fica sabendo que há uma arma que pode acabar com ele. Mas no momento decisivo, ele usa o tal trabuco para outra coisa totalmente diferente, como se sempre soubesse que a tal arma não serviria para o propósito inicial. E a tal coisa diferente que ele faz com a arma [estou me esforçando para não estragar a “surpresa” para quem ainda não viu] é bem difícil de engolir. Ainda mais quando sabemos que nosso herói tem como poder principal a capacidade de regenerar qualquer parte do corpo.

E por falar no “nosso herói”, vamos agora dizer por que o Wolverine do filme não é tão legal quanto o dos quadrinhos. Não vamos ficar reclamando que no original Logan não foi criado pelo meio-irmão, que seu grande amor teve uma história totalmente diferente ou que não foi assim que aconteceu depois que ele recebeu o adamantium (que virou até metal extraterrestre no filme). O maior problema é que o baixinho enfezado não age como no filme, ele não é tão sofredor, tão preocupado com os outros, tão bonzinho. Não tem musiquinha dramática ao fundo cada vez se estrepa emocionalmente. O Wolverine original não acusa o golpe, não se mostra abatido, não faz carinha de quem está triste. Ele é durão e tem um jeito displicente que é uma das coisas mais legais nele. A outra característica que foi ignorada no filme, mesmo quando citada, é a selvageria do personagem. Em momento nenhum ele mostrou como fica quando perde o controle. E olha que não faltou oportunidade para isso, mesmo no fraco roteiro. Em certo momento, Logan manda um recado para um dos inimigos, dizendo “se você queria um animal, agora você terá”. Mas fica só na ameaça. O Wolverine de verdade não diz que será um animal. Ele simplemente vira um, sem avisar a ninguém (nem a si mesmo). E coitado de quem estiver por perto.

Talvez contar apenas a história fiel de Wolverine não daria um bom filme. Para os fãs do cinemão (que tem a grana para fazer um filme com um orçamento como este), é preciso mesmo seguir algumas regras. Simplesmente mostrar Wolverine descobrindo seu poder, adotando o nome de Logan, vivendo como animal entre lobos, morando com índios, se apaixonando por uma nativa, trabalhando para o exército canadense, passando um tempo aprendendo a lutar no Japão, se apaixonando de novo por lá, batalhando na Segunda Guerra, indo trabalhar para uma equipe paramilitar, recebendo implantes de memórias falsas, tendo implantado o adamantiun contra sua vontade, virando um verdadeiro animal, sendo resgatado para a humanidade por outro super-herói canadense, tornando-se um agente mascarado com o codinome Wolverine e, finalmente, sendo recrutado para os X-Men não seguiria a fórmula de sucesso de Hollywood. Faltariam elementos como um grande vilão, um objetivo claro, as dificuldades para se chegar a ele e, por fim, a forma como vencer o obstáculo. Por isso não vou reclamar de a trama não ser fiel aos quadrinhos.

Mas alguns elementos mais fortes dessa trajetória podiam ser usados em uma trama que não precisasse misturar (e descaracterizar) personagens que não têm nada a ver com a vida pregressa de Logan (como uma Emma Frost sem telepatia, Deadpool com poderes estranhos, Blob magro) e sem desprezar questões fundamentais do personagem, como a luta contra seu instinto animalesco (que não é mostrado em profundidade) e a perda da memória (usada só no final). Parece ter havido uma preocupação maior em amarrar a trama com o primeiro filme dos X-Men do que mostrar quem é o amargurado, traumatizado, controvertido e experiente Wolverine, um dos anti-heróis mais cultuados dos quadrinhos. Uma grande frustração.

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